terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Poemas de Lord Klavier



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Poema : Retornello

Eu morri naquela noite
Foi naquela noite que eu morri
Corpo gelado estendido no chão
No chão há um corpo gelado
Também há uma carta
Mas ninguém viu a carta
Nem o corpo que estava no chão
Eu morri naquela noite
Sozinho eu morri
Você não viu o meu corpo?
Sozinho está meu corpo gelado estendido no chão
Uma noite sem ninguém
Não havia ninguém além de mim

Poema: Memorias de um desistente

Lembro da infância perdida
Da época em que era apenas o agora
Lembro da vida tranquila
Do mundo que não existia
Lembro dos sons
Das músicas que eu ouvia
Lembro de você
Dos olhos que não me viam
Lembro de tudo
E de todos
Lembro de fingir
Foi por isso que desisti

Poema: Comigo
Amigo, venha caminhar comigo
E mostrarei que a noite é mais clara que o dia
Que a sua força é maior que a minha
Mas me machucar não é permitido

Amigo, venha caminhar comigo
Pois assim seremos menos tristes
O sofrimento não te proíbe
De derrotar seus inimigos

Amigo, venha caminhar comigo
Veja! As estrelas nos esperam
Somos maiores do que éramos
Apenas por sermos amigos

Então, venha caminhar comigo
Pode apoiar-se em meu corpo
Mais do que isto eu não sofro
Não vê que este é o corpo de seu amigo?

Amigo! Porque não queres caminhar comigo?

Poema: Minha propia tortura
Não me aguento dentro de minha própria pele
Encurralado contra ossos e carnes
Eu faço minha própria tortura
Pois a tortura é ser eu
Talvez eu possa dar um fim a isso
Se eu pudesse viver fora de mim
Eu o faria
Caindo a cada dia
Estou na lama
Nas garras do demônio
Não consigo sair daqui
Mas gostaria poder
Porque estou preso dentro de mim
Já estou farto de pensar
Pois o mínimo impulso cerebral
É capaz de desencadear horrenda dor
Minha vida é ser sempre o último
Eu possuo vida?
Esquecido pelos outros e por mim
Quem pode me ver ou me ouvir?
A minha derrota é previsível
Mas já não sou um derrotado?
Caindo a cada dia
Não viver seria a escolha mais fácil
Mas eu quero sair daqui
Eu faço minha própria tortura
Caindo a cada dia
Portanto meu holocausto também
O fim de tudo é logo ali
Já estou farto de pensar
Entretanto é tudo o que me resta
Ficar preso dentro de mim
Caindo a cada dia
Até que meu corpo encontre o chão

Poema: Transfiguraçao
Das manhãs de solidão profunda
Às noites de desespero desconsolado
As aflições que vêm a tona
Para, de mim, se acabarem
As interrogações surgem sem respostas

As trevas consomem depressa
A cada estrela que surge a brilhar
É cada minuto que se esvaia
Por que a morte não dá um fim a isso?

A dor é cada vez mais profunda
O corpo se retorce com muita relutância
O organismo tenta lutar contra o outro
Mas as trevas consomem depressa
A cada estrela que surge a brilhar
É cada minuto que se esvaia

A minha batalha contra isso é em vão
A minha tormenta exclusão
Só alimenta ainda mais a fome
Eu já não tenho mais forças para lutar

O meu sentido aguçado me arrasta
Arrasta-me para onde eu mais temo
Para onde eu menos desejo
Quando o fim da linha chegar
A surpresa será enorme
Mas é muito difícil controlar-se

Ela me olha
Eu a reconheço
Ela me repugna
Mas eu a desejo

O grito quebra agudo na escuridão
Os meus olhos a admiram perplexos
Os meus dentes a devoram com vontade
O remorso vem aos prantos
Ou seria aos uivos?

Mas já não dá mais para lamentar
A escuridão se dissipa
A lua se esconde
Mas eu nunca irei animar

Por que a morte não dá um fim a isso?
Porque é sempre assim:
Das manhãs de solidão profunda
Às noites de desespero desconsolado

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